Cora Coralina e o Rio Vermelho
Fazia doces com as mãos e com a boca.
Doces de frutas e de metáforas para suavizar a amargura que brotava da memória. Cozia caldas em tachos de cobre e o calor era tanto que espantava todos os medos. Ao lado corria o Rio Vermelho, sem tomar conhecimento de sua existência. Há mais de um século, o rio lambe os alicerces da casa da doceira e só encontra o sal das pedras. O doce e o sal quase se tocam na casa da ponte. Depois seguem caminhos diversos. Um para o deleite de quem fica saciado. O outro vai com o rio, Ora calmo, ora se debatendo em paredes, rochedos e barrancos. Serpenteia, encharca a terra e suga mais sal. Insaciável segue buscando o mar. Agora, na casa da ponte, o doce de Cora virou memória e os versos são servidos, aos bocados, a quem vai, como criança, procurar novos sabores. O rio passa como se não tivesse passado o tempo.
Carlos Augusto Cacá
Enviado por Carlos Augusto Cacá em 05/07/2011
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