Augusto Cacá

A poesia representa o homem para que ele se reconheça, se estranhe e se transforme. Fadas Guerreiras

Textos

Cora Coralina e o Rio Vermelho
Fazia doces com as mãos e com a boca.
Doces de frutas e de metáforas
para suavizar a amargura que brotava da memória.
Cozia caldas em tachos de cobre
e o calor era tanto que espantava todos os medos.

Ao lado corria o Rio Vermelho,
sem tomar conhecimento de sua existência.
Há mais de um século, o rio lambe os alicerces da casa da doceira
e só encontra o sal das pedras.

O doce e o sal quase se tocam na casa da ponte.
Depois seguem caminhos diversos.
Um para o deleite de quem fica saciado.
O outro vai com o rio,
Ora calmo, ora se debatendo em paredes, rochedos e barrancos.
Serpenteia, encharca a terra e suga mais sal.
Insaciável segue buscando o mar.

Agora, na casa da ponte,
o doce de Cora virou memória
e os versos são servidos, aos bocados,
a quem vai, como criança, procurar novos sabores.
O rio passa como se não tivesse passado o tempo.
Carlos Augusto Cacá
Enviado por Carlos Augusto Cacá em 05/07/2011


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