Augusto Cacá

A poesia representa o homem para que ele se reconheça, se estranhe e se transforme. Fadas Guerreiras

Textos

Encontro
Estava escuro e eu não te via.
Sabia que estava por perto.
O cheiro de terra molhada
Se misturava ao seu.

Ouvi vozes distantes.
Gente removendo escombros.
Saí tateando paredes.
Minha perna...
Sempre essa perna inchada
Me puxando para trás.

Chamei seu nome. Tentei gritar.
Depois as vozes sumiram.
Saíram num carro sem luzes.

Não ouvi mais nada.
Nem um gemido.
Recostei-me na parede
E deixei o corpo escorrer.

Acordei com um estrondo.
Raios rasgando o céu
Inundavam de luz a praça.
Vi que os jardins não foram atingidos.
Chamei seu nome,
Mas não havia ninguém.
Um miado de gato e mais nada.

Levantei-me e arrastei a perna até o chafariz
Em que os anjos de pedra urinam para o alto.
Bebi a urina dos anjos, lavei feridas, braços e rosto.
Então, veio a chuva
E “O Bolero” de Ravel misturado aos trovões.
Tirei a roupa e dancei na piscina.
Rodopiava de braços abertos
E parava com as palmas das mãos para o alto.
Depois, soltava o corpo para trás
Pra sentir a água estalando nas costas.
Tomei um banho do céu e da terra.

Por fim, subi no pedestal dos anjos de pedra
Abri os braços e soltei o corpo pra frente.
Um clarão iluminou a praça e eu vi
Do outro lado do espelho d’água estava você,
Atirando seu corpo contra o meu.

(do livro: Fadas Guerreiras, à venda em www.caca.art.br)
Carlos Augusto Cacá
Enviado por Carlos Augusto Cacá em 04/02/2007
Alterado em 19/02/2007


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